Boa tarde caros Subscritores,
Ontem à tarde passei uma horinha a ler o form 20-F da Huya para me inteirar dos principais riscos de um potencial investimento. Saí dessa leitura atraído pela possibilidade de, depois de ter recomendado a Douyu, recomendar também a Huya, pelos seguintes motivos principais:
1º – As tendências fundamentais, o balanço e a valorização são muito atrativas;
2º – A Tencent tem mais de 60% do capital, pelo que a possibilidade de existir alguma fraude contabilística é reduzida;
3º – Desde 2018 que a Huya está a trabalhar na expansão internacional da sua plataforma de live streaming;
4º – As restrições relativas ao jogo por parte de menores já existem há alguns anos e são pouco relevantes para os fundamentais da Huya.
Esta manhã vinha motivado para recomendar a entrada da Huya no TOP20 Small Caps US, mas queria ver mais informação, nomeadamente as visões de outros analistas, que no geral concordavam que os fundamentais eram atrativos.
Só que nessas deambulações “acordei” para uma realidade que, ainda que estivesse presente no meu espírito, nomeadamente quando publiquei o seguinte artigo…
…estava um pouco relegada para segundo plano, pois é difícil ignorar as empresas da segunda maior economia do mundo, que se tornou ainda mais importante no contexto da pandemia.
Naquele artigo o meu maior receio era que os americanos fizessem um delisting das ações chinesas, ou que impusessem sanções, mas agora o receio é outro e tem a ver com o Partido Comunista Chinês e o seu líder autocrático, Xi Xinping.
Não sei se vocês se deram conta do que aconteceu no dia 23 de julho deste ano, na indústria da educação privada chinesa?
Foi algo absolutamente chocante.
Mas antes devo dizer que a indústria da educação privada na China foi sendo construída nas últimas duas décadas e em 2020 já teve receitas de mais de $120 Billion!
Então o que é que aconteceu nesse dia 23 de julho?
Foi publicado num jornal estatal, e lido na televisão do Estado, um comunicado oficial que obrigava a que todas as empresas que se dedicavam a explicações ou educação extra-curricular, na faixa do ensino obrigatório (até ao 9º ano), passassem a entidades sem fins lucrativos. Para além disso, nenhuma dessas empresas poderia ter capital estrangeiro:
A seguir os governantes chineses foram atrás de toda a indústria de educação privada, restringindo muitíssimo a sua atividade e obrigado a que os seus programas sejam exatamente os mesmos das escolas estatais:
As ações desta indústria da educação privada chinesa, cotadas nos Estados Unidos, que já vinham em queda (“alguém” já sabia!), caíram tipo 90% nesse dia 23 de julho de 2021. Podem ver os gráficos destas seis: New Oriental Education (EDU), Tal Education Group (TAL), 17 Education & Technology (YQ), Zhangmen Education (ZME), China Online Education Group (COE) e Gaotu Techedu (GOTU).
Vou focar-me na New Oriental Education porque me lembro de ser uma ação que analisei quando tinha o 3 Stocks on Fire, em 2005 – 8:
Incrível e assustador, não é?
As tendências fundamentais eram bastante positivas, o Balanço era muito sólido (e ainda é), a tendência era ascendente e de repente… começa a cair e depois descamba completamente, porque o Estado dinamitou o seu negócio.
Se fosse só uma empresa, enfim, acontece. Mas foi uma indústria inteira, já com uma dimensão anual de $120 B e com milhões de trabalhadores. Os políticos chineses, nomeadamente o Presidente Xi Jinping, não se preocupou nada com isso.
Depois estive a ver um documentário da ABC sobre Xi Jinping que, pelos vistos, em 2018 se perpetuou no poder e que, possivelmente, ambiciona ser o Chairman de TUDO:

Tudo isto me deixa preocupado com holdings de ações chinesas, pois existe o risco real de nacionalização dos seus ativos, seja qual for a indústria.
Vejamos, no TOP20 Small Caps US temos as seguintes ações de empresas com ativos e/ou vendas relevantes na China:
- Natural Health Trends
- Canadian Solar
- Jinko Solar
- Douyu
Não vou vendê-las já porque não existe urgência – quer dizer, a qualquer momento o “papão” pode comê-las – mas vou reestabelecer as seguintes regras no Borja on Stocks:
- Não publicaremos mais análises a ações de empresas chinesas, porque o risco é demasiado elevado
- Não recomendarei mais ações de empresas chinesas
Compreendam que há sempre uma deriva para as ações de empresas chinesas porque muitas delas têm fundamentais muito atrativos, especialmente quando comparados com as ações de empresas europeias e americanas.
Porém têm também uma série de riscos, sendo o mais importante a intervenção autocrática do Estado, que tem entrado a dizimar indústrias inteiras, como aconteceu com a indústria da educação privada e também algumas empresas tecnológicas. Parece que primeiro deixam os empresários ter as ideias, investir, trabalhar, crescer e quando as empresas chegam a uma dimensão apreciável e apetecível… o Estado, encabeçado por Xi Jinping, fica com tudo.
Voltando às quatro chinesas que estão no TOP20 Small Caps US, não há urgência em vender, mas a ambição nessas holdings deverá ser reduzida.