Acerca do risco de Delisting

Bom dia caros Subscritores,

Há alguns anos que as autoridades norte-americanas mostram preocupação com a listagem de empresas estrangeiras, nomeadamente chinesas, na NYSE e Nasdaq.

Esta preocupação levou à produção legislativa do Holding Foreign Companies Accountable Act, que foi aprovado pelo Congresso e cuja Final Rule se explica neste documento de 64 páginas.

Estive a estudar o documento e o que as regras dizem é que, as empresas listadas na NYSE, Nasdaq e também no OTCBB que utilizem firmas de auditoria que, ainda que estando registadas no Public Company Accounting Oversight Board (PCAOB), não foram auditadas nos últimos três anos, por impedimento de uma autoridade estrangeira, serão delisted, no caso de nos três anos seguintes a situação não se resolver.

As empresas de auditoria que emitem menos de 100 relatórios de auditoria por ano são inspecionadas pelo PCAOB pelo menos uma vez a cada três anos e as que emitem mais de 100 relatórios por ano são inspecionadas pelo PCAOB pelo menos uma vez por ano.

O problema é que certas jurisdições, nomeadamente a China, por questões que alegadamente têm a ver com a soberania nacional, impedem as devidas inspeções do PCAOB, ainda que as empresas de auditoria chinesas (que por vezes até são detidas por empresas norte-americanas), sejam registadas no PCAOB.

Construí a seguinte tabela informativa para as holdings do TOP20 Small Caps US:

Todas estas firmas de auditoria são registadas no PCAOB, mas as localizadas na China não foram inspecionadas nos últimos três anos (as outras foram, que eu verifiquei). Isto significa que, das 20 ações que compõem o TOP20 Small Caps US, há 3 que correm risco de delisting das bolsas norte-americanas: Canadian Solar, Jinko Solar e Douyu.

O processo decorre da seguinte forma: quando as empresas publicam o formulário com as contas anuais de 2021 (pode ser um 10-K ou um 20-F), confirmando a sua firma de auditoria, o PCAOB verifica se é uma das firmas que não conseguiu inspecionar e se for, lança uma “identificação”. No dia 8 de março de 2022 o PCAOB identificou 5 empresas nesta condição (a informação foi divulgada em 10 de março) e foi aí que o mercado viu que “desta vez é a sério”, com os investidores a venderem agressivamente as ações de empresas naquela condição, ou seja, que têm a sua firma de auditoria localizada na China.

À medida que mais e mais empresas forem publicando os seus relatórios anuais na SEC, é provável que a lista de empresas identificadas vá engrossando, pois o PCAOB afirmou que o n.º de empresas potencialmente naquela condição é 273.

Estive a estudar sucintamente as cinco empresas que já foram identificadas: Beigene, Yum China Holdings, Zai Lab, ACM Research e Hutchmed (China).

  • Beigene é cotada no Nasdaq, Hong Kong e Xangai;
  • Yum China Holdings na NYSE e Hong Kong;
  • Zai Lab no Nasdaq, Hong Kong e Frankfurt;
  • ACM Research no Nasdaq, Xangai e Frankfurt;
  • Hutchmed (China) no Nasdaq, Londres, Hong Kong e Frankfurt

A Beigene diz que quer manter a sua listagem no Nasdaq e que está a procurar soluções para resolver o problema. A Yum China Holdings diz que as suas ações cotadas na NYSE podem ser delisted no início de 2024, mas que essas ações são perfeitamente fungíveis com as cotadas em Hong Kong, ou seja, as ações da NYSE podem ser trocadas por ações de Hong Kong que, estive a ver e, tendo em conta o câmbio, valem exatamente o mesmo. A Zai Lab disse apenas que reparou que estava na lista, mas afirmou que isso não significava que as suas ações irão ser delisted do Nasdaq. A ACM Research diz que está à procura de um novo auditor que seja inspecionado regularmente pelo PCAOB. Finalmente, a Hutchmed (China) diz que as suas ações cotadas no Nasdaq são fungíveis com as que são cotadas no AIM (Londres) e em Hong Kong.

Em relação às três holdings do TOP20 Small Caps US que estão naquela condição, a Canadian Solar, a Jinko Solar e a Douyu International, reparem que ainda não apresentaram o seu formulário anual na SEC. É provável que quando fizerem isso entrem naquela lista “negra” do PCAOB, assim como as outras 273 empresas potencialmente “identificáveis”.

  • A Canadian Solar, que é cotada no Nasdaq e Frankfurt (também tem um fundo cotado em Tóquio), pelo menos por enquanto, não fez qualquer menção ao tema;
  • A Jinko Solar, que é cotada na NYSE e Frankfurt (a sua principal subsidiária também é cotada em Xangai), não se pronunciou sobre o tema;
  • A Douyu também não disse nada e é cotada no Nasdaq e Frankfurt

As ações cotadas na NYSE e Nasdaq são fungíveis com as de Frankfurt e Hong Kong, ou seja, se uma destas empresas eventualmente for delisted (a altura prevista é 2024), as ações podem ser trocadas por ações cotadas em Frankfurt ou Hong Kong (podem entretanto fazer uma secondary listing lá), que valerão sensivelmente o mesmo do que as que estão cotadas na NYSE e Nasdaq.

As corretoras em que a maioria dos Subscritores do BoS tem conta dão acesso aos mercados de Frankfurt e Hong Kong, pelo que em princípio não haverá problema em comprar/vender estas ações no futuro, mesmo no caso em que sejam mesmo delisted de Nova Iorque.

Mas vamos ver qual vai ser a atitude tomada por cada uma das empresas, pois como vimos a reação de cada uma das 5 que já foram identificadas foi diferente.

Apesar deste tema do potencial delisting ser bastante aborrecido e estar a deprimir as cotações, não tem rigorosamente nada a ver com os fundamentais das empresas, não tem nada a ver com o seu valor, pelo que seria economicamente irracional vender ações por causa deste fator.

O potencial delisting há muito que vem deprimindo os múltiplos de valorização das empresas diretamente afetadas, mas desde que o PCAOB listou aquelas 5 ações (10 de março) que o tema ganhou força e as ações visadas mergulharam substancialmente.

Penso que o risco de delisting já está bastante descontado e não vou vender qualquer ação por causa deste risco, mas também não vou comprar mais nenhuma ação cotada em Wall Street cuja firma de auditoria não possa ser inspecionada pelo PCAOB.

Se eu não vou comprar, possivelmente muitos outros também não irão comprar, pelo que é provável que, considerando este fator isoladamente, a oferta continue a superar a procura e as cotações das ações visadas continuem a descer. O peso conjunto da Canadian Solar, Jinko Solar e Douyu no TOP20 Small Caps US neste momento é 12,6%, pelo que 87,4% não é afetado pelo tema.

Eu tenho esperança – e acredito mesmo – que as empresas saberão desenvolver uma solução que seja benéfica para os acionistas. A Canadian Solar e a Jinko Solar estão a caminho de serem das maiores empresas de energia elétrica do mundo, pelo que irão valer muitíssimo, sejam cotadas nos Estados Unidos, na Europa ou na Ásia. A Douyu é uma situação mais complicada, em que tenho bastante menos confiança, pois é um negócio exclusivamente chinês, algo esquisito e que em princípio amanhã irá revelar prejuízos não negligenciáveis.

Mas por enquanto vou manter todas.

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