“666 – The Number Of The Beast” bem podia ser o nome do álbum de 1982 dos Iron Maden, mas não. É a quantidade de dívida que a Pescanova vai ter de pagar em 12 meses (666 m€)…
… que é superior aos Ganhos anualizados do primeiro trimestre de 2020 (que foi de 101 m€ em Q1-2020, com uma Receita de 26 m€)…
… e aos Ganhos do ano passado (530 m€, dos quais 75 m€ é receita das vendas)…
… sem falar na Dívida Financeira de longo prazo de 11 MILHÕES de euros…
… que vale quase tanto quanto a Capitalização Bolsista (13 M€):
Cerqueira, a imagem das demonstrações financeiras é infernal. A cotação de 0,45 € até parece baixa…
… mas os 13 milhões de euros de Market Cap dão muita margem para cair – como no dia 8 de Junho de 2017, quando afundou até aos 0,14 € por acção (chegaram a ser negociadas fora de Bolsa a 0,0001 €):
E por onde andam as acções? Em free float (94,9%):
Continuando… vou apresentar a empresa e ler o último Relatório e Contas anual.
Apresentação
A Pescanova S.A. é uma empresa constituída em Junho de 1960 que faliu em 2013 (já vou pormenorizar). Até Outubro de 2015, a sua actividade estava relacionada com os produtos do mar que todos nós conhecemos (agora até já há carne) – produção, transformação, distribuição, comercialização e desenvolvimento de outras actividades complementares, bem como a participação em empresas nacionais ou estrangeiras. Ainda hoje ao almoço comi disto:
Em 2013, a companhia faliu, foi acusada de várias fraudes e a negociação das acções foi suspensa por 4 anos. Em Outubro de 2015, a empresa foi sujeita a uma operação de reestruturação que implicou (1º) a fusão de várias companhias…
… e (2º) a segregação da sociedade em duas – Pescanova España e Nueva Pescanova (que é dona da Pescanova Espanhola, Portuguesa, entre outras):
A (velha) Pescanova, S.A. é actualmente uma empresa sem actividade produtiva com dois activos principais:
- uma participação de 1,65% na Nueva Pescanova, ficando a restante participação sob titularidade dos credores da falência;
- uma conta a receber da Nueva Pescanova que se encontra descrita na Nota 7.2. do Relatório e Contas:
Passo a explicar: na fase da segregação, alguns passivos ficaram na Pescanova velha (Pescanova, S.A.), que passou a ser titular de um crédito na Nueva Pescanova, SL, cuja recuperabilidade está condicionada aos resultados desta. Eu não sei qual a percentagem dos 42 milhões de euros que corresponde aos créditos da Pescanova velha e não conheço os meandros legais e contratuais do processo de insolvência. A coisa é complicada! Até os jornais se confundem com as questões mais elementares. E os processos em tribunal entre as duas empresas (velha e nova Pescanova) são recorrentes. A última sentença esteve relacionada com o aumento de capital da Nueva Pescanova, em 2017:
Os resultados são péssimos:
Conclusão
Os produtos da Pescanova que vemos nos supermercados são produzidos pela Nueva Pescanova. A velha Pescanova (que está aqui em análise) é um barco à deriva na Bolsa espanhola: sem actividade produtiva, com uma enorme dívida e com um resultado financeiro dependente das regras estabelecidas na declaração de insolvência (de difícil compreensão). Não vejo qualquer futuro para a empresa.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico