1. Contexto Histórico
Para entrar no contexto reli, não as 33 análises já publicadas à Mota-Engil, mas as que foram publicadas desde o início de 2021:
- Regresso surpreendente da Mota-Engil ao TOP10 Lisboa
- Mota-Engil: 2020 foi mau, mas 2021 parece que vai ser melhor
- Mota-Engil com bons resultados
- Mota-Engil leva-me a Lisboa
- Mota-Engil e Research Reports
- Análise: as Obrigações da Mota-Engil
Nas primeiras análises fui misturando 100 M€ e 100 milhões de ações, mas é uma situação que está resolvida, com o n.º de ações da Mota-Engil a situar-se atualmente nos 300,7 milhões (já tendo sido descontadas as ações próprias), pelo que à cotação atual de 1,276 €…
…o valor de mercado está nos 383,7 M€.
2. Resultados
Por enquanto ainda não foi divulgado o Relatório e Contas completo, temos apenas a apresentação aos investidores:
3. Pontos Positivos
3.1. Expetativas de crescimento do volume de negócios a “um dígito alto” foram cumpridas
Lembram-se que no 1º semestre o volume de negócios da Mota-Engil diminuiu 2%, mas que a gestão “prometeu” que no final do ano iria apresentar um crescimento a “um dígito alto”? Esse foi um dos fatores que me deu confiança para continuar a manter a Mota-Engil no TOP10 Lisboa e a gestão cumpriu, com o volume de negócios no total do ano a aumentar 9% para os 2.656 M€. No 2º semestre o crescimento do volume de negócios foi de 19%…
…com destaque para África, que cresceu 56%.
3.2. Pessimismo das estimativas mais recentes não se confirmou
Nas primeiras análises acima, as estimativas de lucro em 2021 andaram entre os 20 M€ e os 24 M€, mas subitamente fui surpreendido com uma estimativa média, presente na Refinitiv, que apontava para um prejuízo de 1 M€. Ainda esta manhã a Refinitiv apontava para 4 M€ de prejuízo:
Este pessimismo levou-me a Lisboa à procura dos research reports que o justificassem… não consegui obtê-los, pelo que mantive a posição e agora vemos que eram estimativas descabidas, pois a Mota-Engil apresentou um resultado líquido pertencente aos seus acionistas de 22 M€:
Posso então atualizar o gráfico com o histórico do Resultado Líquido…
…que mostra o regresso aos Lucros em 2021, sendo que, até 2026 a gestão espera voltar aos níveis de Lucro que teve em 2007:
De referir que em 2007 a Mota-Engil valia cerca de 1.000 M€…
…e que para voltar a esse valor de mercado a cotação deverá subir para 3,33 €, que é só um pouco acima dos 3,08 € por ação que a chinesa CCCC pagou pela sua posição.
3.3. Redução simpática da dívida líquida
Redução de cerca de 10% na dívida líquida, para 1.118 M€:
Faz-me confusão a Mota-Engil não ser mais ambiciosa nos seus planos de redução da dívida líquida, pois claramente este é o seu maior problema, quer em termos de Balanço, quer em termos de Demonstração de Resultados, pois em 2021 teve um resultado financeiro de -77 M€:
Mesmo assim foi melhor que em 2020, quando o resultado financeiro foi de -124 M€.
3.4. Carteira de encomendas recorde poderá aumentar significativamente em 2022
Este slide é poderoso, porque não só a carteira de encomendas fechou o ano num novo máximo histórico…
…nos 7,6 B€, como é dito que entretanto já subiu para mais de 8 B€.
A maior parte (64%) das obras contratadas é em África, que é onde a margem EBITDA da Mota-Engil é mais elevada, nos 22%:
Um dos efeitos colaterais da guerra na Ucrânia é que, paradoxalmente, melhorou bastante as perspetivas económicas do continente africano, pois fez aumentar substancialmente o preço das commodities, especialmente o do petróleo:
Subitamente a capacidade orçamental e de financiamento dos países africanos clientes da Mota-Engil – com especial destaque para Angola e Nigéria – aumentou muito significativamente. Os outros países clientes também são produtores de commodities ou metais preciosos, como por exemplo Ouro… se virmos as maiores obras encomendadas à Mota-Engil, várias são para empresas mineiras:
4. Pontos Negativos
4.1. Taxa de juro paga pelos empréstimos subiu de 5% para 5,1%
A Mota-Engil muitas vezes obtém financiamentos nos países de origem dos seus clientes (ou seja, onde as obras vão ser executadas) e esses países têm taxas de juro mais elevadas que os da Zona Euro, pelo que o custo da dívida da Mota-Engil é pesado, atualmente nos 5,1%, a subir dos 5%:
A atenuante é que a Mota-Engil tem uma boa almofada de liquidez (670 M€ em caixa e equivalentes) e o rácio dívida líquida/EBITDA está abaixo do limiar das 3 vezes, o que se torna mais confortável para os investidores.
5. Perspetivas
A gestão dá uma guidance para 2022 que não é muito objetiva porque não vai até ao bottom line…
…mas pensando que o volume de negócios cresce 8%, para os 2.868 M€ e que a margem EBITDA é a mesma (15,5%), o EBITDA será de 444,5 M€. Em 2021 a margem líquida foi de 2,3%, imaginando que se expande para 2,5% o Resultado Líquido será de 71,7 M€, sendo que apenas uns 40% poderão ficar para os acionistas da Mota-Engil, o que dá uns 28,7 M€ de Lucro em 2022, a subir cerca de 30% dos 22 M€ obtidos em 2021.
À cotação de 1,24 € o valor de mercado é de 373 M€, pelo que estimo que o PER22 ande pelos 373 M€ / 28,7 M€ = 13.
Existem construtoras por esse mundo fora que estão bastante mais baratas (por exemplo, a Heijmans), mas a Mota-Engil tem duas particularidades que, a meu ver, fazem com que esteja subavaliada:
1ª – Está num processo de turnaround e quando as ações estão nessa fase é normal transacionarem com PERs bem acima da média;
2ª – A Mota-Engil não é só uma empresa de engenharia e construção, também tem várias subsidiárias que são concessionárias de auto-estradas (basta pensar por exemplo na Lusoponte) e outras relacionadas com o ambiente, nomeadamente do tratamento do lixo e esgotos. E as empresas destas indústrias estão valorizadas pelos investidores de forma bastante mais rica… a gestão da Mota-Engil talvez fizesse melhor em explicar de forma mais detalhada estes seus outros negócios.
Resumindo, a Mota-Engil está no bom caminho e os 105 M€ de lucro projetados para 2026 são alcançáveis. Com a bonança que África está a começar a sentir até podem vir mais cedo… porque não em 2023?
6. Conclusão
A Mota-Engil mantém-se no TOP10 Lisboa e o PAQVH mantém-se nos 2,59 €.