1ª Fase – O Investidor Noviço
Tipo A
O noviço de tipo A não percebe nada de ações e sabe muito bem disso, por isso sempre seguiu os conselhos do seu gestor de conta num banco comercial. Comprou ações nas privatizações do final dos anos 90 e noutras OPVs desde então e, apesar dos dividendos que foi recolhendo, tem um saldo um pouco negativo nos seus investimentos em ações nos últimos vinte anos.
Só tem ações nacionais em carteira porque só essas é que lhe foram aconselhadas pelo seu gestor de conta, cujo objetivo era apenas cumprir as ordens dos seus superiores e colocar ações junto dos clientes, sendo que o banco era um dos promotores das OPVs.
O Noviço de tipo A não procurou aprender mais sobre investimentos em ações porque a sua estratégia sempre foi seguir os conselhos de quem percebesse do assunto. O problema é que, na quase totalidade dos casos, os gestores de conta dos bancos comerciais também não percebem nada de ações, apenas cumprem as missões que lhes são atribuídas, no sentido de vender os produtos financeiros que interessam ao banco vender.
Tipo B
O noviço de tipo B é mais auto-didata e, vendo que os seus depósitos a prazo não rendiam nada, começou a procurar por alternativas, tendo descoberto o mercado de ações. A sua primeira pergunta é:
Como é que eu compro ações?
E a segunda pergunta é:
Qual é a melhor corretora?
Nesta fase a sua preocupação é “entrar no jogo” e o plano é “ir aprendendo com a experiência”. O noviço de tipo B está num caminho que tem mais potencial, mas também mais risco.
2ª Fase – O Investidor Impaciente
Após comparar os preçários, funcionalidades e segurança de várias corretoras, o noviço de tipo B abre a sua conta e começa a transacionar ações.
O seu objetivo não é necessariamente investir em ações, mas sim ver se ganha alguma coisa superior aos depósitos a prazo nos próximos dois ou três anos. A estratégia começa por ser do género, “quando estiver a ganhar suficientemente, vendo” e “quando estiver a perder, aguento”.
Com o passar do tempo o investidor Impaciente começa a sentir-se frustrado, pois as ações que vendeu continuaram a subir e as ações que manteve, continuaram a descer. Está a dedicar algum tempo ao acompanhamento das cotações e não está a ter o proveito desejado, pelo que se encontra numa encruzilhada:
A – Vende tudo, esquece o assunto e dedica-se a outra coisa;
B – Estuda mais e mais até se tornar num investidor sofisticado.
3ª Fase – O Investidor Sofisticado
Tipo A
O sofisticado de tipo A leu vários livros sobre Bolsa e já aprendeu a máxima “cut the losses and let the profits run“. Sabe o que são linhas de tendência, médias móveis, ordens de stop, etc.
Continua essencialmente preocupado e responsivo à evolução das cotações, mas entretanto conheceu o mundo dos ativos financeiros derivados: CFDs, Futuros, Opções, Warrants, ETFs alavancados, etc… é aqui que está o perigo, pois a maior parte dos traders nestes produtos acaba por perder tudo, por causa da falta de controlo da alavancagem e por outros motivos menos óbvios.
É algo injusta a realidade do Sofisticado de tipo A acabar por obter resultados inferiores ao Noviço de tipo A, uma vez que o Sofisticado trabalhou mais e dedicou muito mais tempo ao estudo dos mercados financeiros. Mas quando o Sofisticado de tipo A coloca o seu dinheiro em corretoras sem escrúpulos cujo modelo de negócio se baseia nas perdas dos clientes está a pedi-las… A corretora, ao servir de contra-parte das transações dos clientes trabalha com um conflito de interesses, pois ganha quando os clientes perdem e perde quando os clientes ganham, pelo que tem um incentivo económico para prestar um mau serviço.
Recentemente, depois de durante vários anos muitos milhares de investidores terem perdido tudo nas corretoras de Forex e CFDs, os reguladores atuaram.
Tipo B
Antigamente existiam poucos Sofisticados de tipo B mas nos últimos tempos – e eu terei tido uma minúscula quota parte de responsabilidade nesta tendência em Portugal – já aparecem alguns sofisticados que enveredam antes pelo caminho da Análise Fundamental, isto é, não olham para as cotações como um jogo de números que oscilam, vêem as ações como veículos de investimento em empresas reais.
Os Sofisticados de tipo B fazem a conexão entre as ações e as empresas, sabem como calcular a Capitalização Bolsista e os principais rácios de AF, tais como o PSR, o PER e o PBV e conseguem avaliar mais ou menos se uma empresa está subavaliada ou sobre-avaliada pelo mercado.
Lêem naturalmente alguns livros sobre as estratégias dos grandes investidores, como por exemplo o Warren Buffett e o Peter Lynch e procuram, de certa forma, imitá-los, pensando “o que é que o Buffett faria nesta situação?”
Os Sofisticados de tipo B dominam a mecânica do investimento em ações e da Análise Fundamental, porém naturalmente falta-lhes aspetos mais subjetivos como a experiência, a paciência e a mentalidade. E também por vezes a confiança.
4ª Fase – O Investidor Paciente
O Paciente cometeu alguns erros no passado por ter tido “mãos fracas”, isto é, tremeu e vendeu por fatores que não eram verdadeiramente relevantes e desde então, com a experiência, tornou-se mais paciente.
Não é uma oscilação negativa na cotação, mesmo que seja de 20 ou 30%, que lhe vai colocar dúvidas no espírito. Nem é uma notícia negativa, ou um resultado trimestral menos conseguido que o fará vender. Também não vende só porque está a ganhar 50%, ou mesmo 100% numa ação, se essa ação tiver potencial para valorizar mais em termos de longo prazo.
O Paciente sabe que precisa de deter algumas ações que sobem muito em termos de longo prazo, que precisa de investir nelas durante muitos anos, para obter um bom retorno dos seus investimentos.
E sabe também distinguir entre as ações atrativas e aquelas que, nem mesmo que desçam mais de 50%, valem a pena. Considera algumas ações “tóxicas” e nunca se sente atraído por elas, por mais que baixem de preço… o Paciente não está interessado em ganhos rápidos proporcionados por ressaltos porque entende que o potencial não compensa o risco.
O Paciente integrou na sua Análise Fundamental não apenas o estudo da situação atual, mas um contexto mais alargado, uma tendência do passado que se prolonga para o futuro. Tem uma propensão para empresas maiores e mais sólidas e algum receio de novidades, tais como OPVs recentes ou small caps inovadoras. Porém também tem algumas large caps em que está a perder ligeiramente e que têm pouco potencial de valorização, mas ele continua a aplicar a técnica da paciência, que lhe foi ensinada pela experiência.
No fundo o Paciente é um investidor em ações algo conservador, que pretende investir durante décadas e que está mais focado em não perder significativamente do que em ganhar muitíssimo. Aplica a máxima “devagar se vai ao longe…”
5ª Fase – O Investidor Conhecedor
O Conhecedor é diferente do Paciente no sentido em que faz distinções entre situações em que deve ser paciente até ao limite da sua existência e situações em que deve agir JÁ!
Através da construção de uma história de investimento economicamente racional em cada empresa o Conhecedor integra a nova informação no seu modelo e distingue perfeitamente qual é a informação relevante da irrelevante. Sabe que ações comprar e a que preço e as suas principais motivações pelo que, se no futuro forem invalidadas, deverá vender, quase independentemente do preço.
O Conhecedor retirou-se da equação para estar em perfeita sintonia com a realidade das empresas, ou seja, não lhe interessa nada se está a ganhar ou a perder numa ação, mas sim se as suas motivações para a deter se mantém válidas. E enquanto se mantiverem válidas o Conhecedor continua a manter as ações… se as motivações forem invalidadas pelos desenvolvimentos, vende sem contemplações.
O Conhecedor compreende que todas as grandes empresas de hoje em dia já foram pequenas e médias (à escala da Bolsa) e que é nesse desenvolvimento de longo prazo que se obtém os maiores ganhos, pelo que não tem receio de investir em empresas mais pequenas (obviamente de forma diversificada) que tenham alguns ingredientes especialmente atrativos que lhes proporcionem boas oportunidades de crescimento no futuro.
A mecânica da Análise Fundamental em termos estáticos e históricos é básica… são contas da instrução primária. O Conhecedor vai muito mais além, entrando pela subjetividade e procurando prever o futuro a longo prazo para cada empresa. Esse futuro é desenhado de forma relativamente objetiva e cada informação nova é testada contra a visão inicial.
As grandes tendências nas cotações ocorrem quando uma visão de longo prazo não se confirma… uma empresa que era suposto crescer muito, afinal não cresce e uma que era suposto ir à falência… afinal resiste, recupera e volta a crescer. Neste caso existe uma ruptura com o passado que é identificada através de um catalisador… um catalisador é um sinal para agir JÁ!
Saber identificar os catalisadores e distinguir a relevância de cada um é uma das principais tarefas do Conhecedor no mercado de ações.
Enquanto que o Paciente ficará satisfeito se conseguir um retorno médio anual entre 6 e 8% o Conhecedor pretende obter o dobro em termos de longo prazo, ou seja, entre 12% e 16% ao ano. Para isso o Conhecedor reconhece que terá de ter uma apetência pelo risco um pouco superior e por tal também uma tolerância à volatilidade também superior… evidentemente o caminho entre o ponto A no presente e o ponto B no futuro será tudo menos linear.
Conclusão
Estas cinco fases são uma simplificação grosseira da complexidade que cada investidor contém… naturalmente cada investidor específico fará parte de várias fases, ou encontrar-se-á em transição de umas para as outras.
Alguns curiosos terão passado fugazmente pela Bolsa e as Ações e nunca mais pensaram nisso, mas não é para esses que escrevo. Escrevo para aqueles que querem investir em ações ao longo de uma vida e que quererão ir desenvolvendo o seu conhecimento sobre este tema… fascinante? 🙂
Falta apenas referir mais um aspeto: é possível que existam mais fases e que o Conhecedor não seja o topo da pirâmide. Poderia por exemplo imaginar o Controlador, aquele que, pela dimensão das suas posições, controla o destino das empresas 😉
César Borja